segunda-feira, 26 de março de 2012

COMO NÃO SE DEVE MATAR UM GATO

   





Contam que um sujeito, perverso e desastrado, certa feita foi matar um gato. Por que resolvera matá-lo, isso ninguém (a não ser ele) saberia dizer. Talvez mesmo por que fosse perverso...
    O certo é que numa manhã, cedinho ainda, alguém avistou sua figura delgada rumando a um descampado, carregando algo num saco de estopa nas costas. Uns quatro guaipecas iam atrás, fazendo festa. Desciam por um atalho estreito, entre vassouras, guanxumas e barbas-de-bode lavadas pelo orvalho, o que ia deixando a comitiva toda encharcada.
     Lá embaixo na mata, os passarinhos davam as boas-vindas para uma manhã estranhamente fria para um   mês de novembro. Na direção do poente, encravada num azul esmaecido, uma lua que não passava de uma lasca de unha, espiava entre nuvens negras e densas. Consta ainda que soprava um vento maroto proveniente das bandas do Paraguai.
    Depois do atalho havia uma cerca de arame farpado. Depois da cerca, um potreiro. E logo ali adentrando, pararam. E por entender que naquele plano, onde predominava a grama rala permeada por esparsos e agrestes pés de joá, mata-campo e maria-mol, por entender que ali seria um ótimo local para realizar o seu intento macabro, o sujeito -cercado pela ânsia barulhenta dos cães- se agachou e, lá como quem ergue o pano para dar início a um espetáculo, abriu então a bolsa... Pra quê!
    O gato -um formidável animal de pelo preto-, emergindo assim de soco para uma contracena tão desgraçada, encurralado, prevendo seu couro em tiras, num piscar de olho, dá um pulo no ombro do ruindade - que se levanta de imediato, como se levasse um choque. A cachorrada, em pé, tentava  abocanhar o  bichano, que era um arco crispado e colérico no cocoruto do infeliz. Aturdido e se retorcendo de dor, ele procurva em vão  se livrar do gato, puxando-o pelo rabo; dava coices para afastar a cachorrada, e nada. Para piorar, lá pelas tantas, no afã, um dos cachorros rasgou-lhe uma orelha. Numa gritaria, todo ensanguentado, o desgraçado saiu numa disparada -e a cachorrada de atrás- ao encontro de um pé de pata-de-vaca, onde o gato finalmente saltou... Arre!
    Também, depois dessa, até hoje o vivente corta volta quando enxerga um gato preto. Não deve duvidar que dá azar...

                                              Giruá, Terra dos Butiazeiros, agosto de 2006.  

9 comentários:

  1. Respostas
    1. Engraçado. Também disse hoje "nossa!", quando vi Tobi(um basset) encurralar uma rapasa e moer todos os ossos da coitada sem que eu pudesse salvá-la. Fazer o quê?
      Obrigado pela visita e comentário.

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  2. Meu Deus, HAUHAUAHUAHAUAHAUAH!!!!
    O engraçado é que ontem eu fui lendo esse post, e ficava só falando "nossa", "nossa", "bah..." em pensamentos... porque li aqui no trabalho!
    hahahaha!

    bjs

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  3. Aplausos para o gato preto...amei...e se estivesse lá,me uniria ao gatão para dar um pau nesse desalmado!!!
    Sabes como é que é...os gatos são unidos...rsrsrsrsrs...
    Escreves tão bem que sentia os pelos espetados dos cachorros e do desesperado gato...e também o pavor do "desgrafuite" da besta humana.
    Diga-me...quem tem somente uma mão,é maneta...quem tem somente um pé,é perneta,masssss quem tem só uma orelha,é o que??????...rsrsrsrs...
    Beijão, da miau mais loira,gostosa e valente do gatil....ksksksksksks...

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  4. À Crista e Keyla, obrigado pela visita e comentário.

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  5. Hahaha! Pitadas de humor em textos são sempre bem vindas!

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